segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Vento

Os Monarcas

Composição: Edson Gaúcho

Num mundo com tantas doenças. O povo com pouca crença. Eu venho pedir cantando em sentimento e versos, eu venho pedir ao vento dar uma volta no universo. (Meditação).

Pedi ao vento que leve lembrança pra minha terra.
Pedi ao vento que leve paz, aonde tem guerra.
Pedi ao vento que leve fartura onde tem miséria.
Pedi ao vento que leve um beijo nos lábios dela.

O Vento foi,
O Vento vem,
Será que o vento já me atendeu?
Só resta agora você me entender,
Que esse vento é o nosso Deus!

Pedi ao vento que salve os jovens perdidos nas drogas.
Pedi ao vento que espalhe no céu o perfume das rosas.
Pedi ao vento que toda a nação seja gloriosa.
Pedi ao vento proteção aos filhos da mãe amorosa.

O Vento foi,
O Vento vem,
Será que o vento já me atendeu?
Só resta agora você me entender,
Que esse vento é o nosso Deus!

Pedi ao vento pra acalmar as ondas dos sete mares.
Pedi ao vento que leve harmonia a todos os lares.
Pedi ao vento que leve embora a impureza dos ares.
Pedi ao vento em orações que fiz nos altares.

O Vento foi,
O Vento vem,
Será que o vento já me atendeu?
Só resta agora você me entender,
Que esse vento é o nosso Deus!

Pedi ao vento pra nos conduzir na estrada da vida.
Pedi ao vento que encontre a criança desaparecida.
Pedi ao vento que dê ao doente conforto e guarida.
Pedi ao vento que a minha prece seja ouvida.

O Vento foi,
O Vento vem,
Será que o vento já me atendeu?
Só resta agora você me entender,
Que esse vento é o nosso Deus!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Os poemas foram retirados do site: www.fabiorocha.com.br/barros.htm.


Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces: Positiva e negativa O passado foi duro mas deixou o seu legado Saber viver é a grande sabedoria Que eu possa dignificar Minha condição de mulher, Aceitar suas limitações E me fazer pedra de segurança dos valores que vão desmoronando. Nasci em tempos rudes Aceitei contradições lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo Aprendi a viver.

Cora Coralina


Aninha e suas pedras


Não te deixes destruir... Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.

Cora Coralina (Outubro, 1981)

BIOGRAFIA

Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas, nasceu no estado de Goiás (Goiás Velho) em 1889. Filha de Jacinta Luíza do Couto Brandão Peixoto e do Desembargador Francisco de Paula Lins dos Guimarães. Em 25 de novembro de 1911 deixa Goiás indo morar no interior de São Paulo. Volta para Goiás em 1954, depois de 45 anos.

Cora Coralina era chamada Aninha da Ponte da Lapa. Tendo apenas instrução primária e sendo doceira de profissão.

Publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade. Ficou famosa principalmente quando suas obras chegaram até as mãos de Carlos Drummond de Andrade, quando ela tinha quase 90 anos de idade.

Sua obra se caracteriza pela espontaneidade e pelo retrato que traça do povo do seu Estado, seus costumes e seus sentimentos.

Faleceu em 10 abril de 1985 em Goiânia.



JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade




CIDADEZINHA QUALQUER


Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus.
Carlos Drummond de Andrade


BIOGRAFIA

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.



Mundo Pequeno

(do livro "O Livro das Ignorãças")


I O mundo meu é pequeno, Senhor. Tem um rio e um pouco de árvores. Nossa casa foi feita de costas para o rio. Formigas recortam roseiras da avó. Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas. Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves. Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio. Quando o rio está começando um peixe, Ele me coisa Ele me rã Ele me árvore. De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos.



I I Conheço de palma os dementes de rio. Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama e de Rogaciano. Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar no horizonte. Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas de Corumbá. Me disse que as coisas que não existem são mais bonitas.



I V Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas, Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos de um mar extinto. Caminha sobre as conchas dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não tinha boca mesmo. "Sonora voz de uma concha", ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares conversamentos de gaivotas. E passam navios caranguejeiros por ele, carregados de lodo. Sombra-Boa tem hora que entra em pura decomposição lírica: "Aromas de tomilhos dementam cigarras." Conversava em Guató, em Português, e em Pássaro. Me disse em Língua-pássaro: "Anhumas premunem mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer". Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas: "Borboletas de franjas amarelas são fascinadas por dejectos." Foi sempre um ente abençoado a garças. Nascera engrandecido de nadezas.



V Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas. Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito. Eu pensava que fosse um sujeito escaleno. - Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse. Ele fez um limpamento em meus receios. O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas... E se riu. Você não é de bugre? - ele continuou. Que sim, eu respondi. Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas - Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros. Há que apenas saber errar bem o seu idioma. Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de gramática.



VI Toda vez que encontro uma parede ela me entrega às suas lesmas. Não sei se isso é uma repetição de mim ou das

lesmas.

Não sei se isso é uma repetição das paredes ou de mim. Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes? Parece que lesma só é uma divulgação de mim. Penso que dentro de minha casca não tem um bicho: Tem um silêncio feroz. Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra.





Biografia


Manoel de Barros nasceu no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá em 1916. Mudou-se para Corumbá, onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande. É advogado, fazendeiro e poeta. Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio São José dos Irmãos Maristas, Rio de Janeiro. Autor de várias obras pelas quais recebeu prêmios como o "Prêmio Orlando Dantas" em 1960, conferido pela Academia Brasileira de Letras ao livro "Compêndio para Uso dos Pássaros". Em 1969 recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal pela obra "Gramática Expositiva do Chão" e, em 1997 o "Livro Sobre Nada" recebeu um prêmio de âmbito nacional.

terça-feira, 4 de maio de 2010

O PODER DA VÍRGULA




Vírgula pode ser uma pausa... ou não:

Não, espere. Não espere...

Ela pode sumir com o seu dinheiro:
23,4. 2,34. Pode criar heróis:
Isso só, ele resolve. Isso só ele resolve.

Ela pode ser a solução:
Vamos perder, nada foi resolvido. Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião:
Não queremos saber. Não, queremos saber.
A vírgula pode condenar ou salvar:
Não tenha clemência! Não, tenha clemência!
Quem tem mais valor, o homem ou a mulher?
Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro à sua procura.
* Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER... * Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM...