segunda-feira, 12 de abril de 2010




Jaime Leitão - Publicado em 19.04.2007


Hoje, 19 de abril, é Dia do Índio. Homenageamos o índio em algumas escolas, mas, com esse ato, não apagamos nem um milésimo da nossa culpa em relação ao que fizemos contra ele nesses 507 anos de História. O índio no Brasil foi pilhado, assassinado pelos portugueses que aqui aportaram e continuaram sendo dizimados pelos brancos que nunca compreenderam a importância dessa cultura tão rica e diversificada.
Até na linguagem, o preconceito contra os indígenas está bem marcado. Quando alguém próximo de nós tem uma atitude pouco civilizada, agressiva, dizemos que está agindo como índio. É uma forma de desqualificarmos um comportamento que é muito mais do “civilizado”, do homem da cidade, que trabalha como um louco, quase não tendo tempo para manter um contato saudável com a natureza, e que por esse motivo está quase sempre mal-humorado. O índio não tem nada a ver com isso. O selvagem urbano é muito mais selvagem e perigoso que o selvagem da selva. Outro preconceito: programa chato, ao qual não queremos ir, também chamamos de programa de índio. Índio que é índio nunca iria a algumas festinhas que freqüentamos para agradar esse ou aquele, sem a mínima vontade. Atribuímos ao índio o que nos desagrada, sintoma esse da nossa covardia e hipocrisia, dois valores muito cultivados na nossa sociedade, mas não entre os indígenas. Há dez anos, “filhinhos de papai rico” , de Brasília , puseram fogo e mataram de maneira bárbara o cacique pataxó hã-hã-hãe Galdino Jesus dos Santos, que estava dormindo em um banco de jardim. Ficaram presos algum tempo e depois recuperaram a liberdade. Só foram condenados porque entidades que defendem os índios fizeram muito barulho para evitar que no dia seguinte já estivessem na rua procurando outras pessoas para matar. Na época, disseram que só estavam brincando. Civilizadíssimos os moços. Em Mato Grosso do Sul, nos últimos três anos, morreram dezenas de crianças indígenas por falta de comida. A maioria que vive na aldeia tem peso bem abaixo do aceitável. O motivo da morte é que as cestas básicas ou demoraram a chegar lá ou foram desviadas. Temos muito mais a aprender com os índios do que eles conosco, mas a nossa arrogância não permite que tenhamos uma visão mais ampla dessa realidade. Se fôssemos menos ambiciosos, mais brincalhões, trabalhássemos só o tempo necessário para sobreviver, seríamos muito mais felizes e descontraídos, e não sofreríamos de estresse. Índio só passa a ter estresse, sarampo e outras doenças depois que passam a se relacionar com os brancos. Precisamos mudar o nosso conceito em relação aos índios, combatendo o nosso preconceito. Preconceito é uma grande bobagem que bloqueia a nossa vida e provoca conflito com aqueles que só querem viver bem, nada além disso. Basta de maltratar os índios.

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