quinta-feira, 1 de maio de 2014

AVENTURA

Achamos na beira do rio um sapo seco, e um pote.
O pote estava de barriga aberta ao sol. (Depois
eu falo do sapo.) Nas enchentes nem quase que não
entravam as águas para dentro do pote. Por forma 
que o pote era seco e aberto aos ventos. Os bons
ventos da tarde que entravam com areia e  cisco
pelo ventre aberto do pote. (Demoramos de dois
anos para  voltar àquele retiro.) Agora, de volta,
achamos o pote tibi de emprenhado. A barriga do 
pote fosse agora um canteiro arrumado. Estava  bom
de criar. Foi que veio  daí um passarinho e cagou
na barriga do pote uma semente de roseira. As
chuvas e os ventos deram à gravidez do pote forças
de parir. E o pote pariu rosas. E esplendorado
de amor ficou o pote! De amor, de poesia e de rosas.
E havia perto, por caso, um sapo destripado e seco.
A abertura do ventre do sapo também se enchera
de areia e cisco. Também se fizera ele um canteiro
arrumado. Foi que outro passarinho veio e cuspiu
outra semente de rosa no ventre do sapo. E outra
rosa nasceu na primavera. Foi um dia de glória
para o nosso olhar. As rosas do sapo e do pote
foram abençoadas de borboletas que pousavam nas
roseiras. Houvemos júbilo!

Manoel de Barros
Memórias Inventadas/A segunda Infância

Foto: Dani França/Rio Aquidauana

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